Os dois maiores eventos de massa no Brasil – a Marcha para Jesus e a Parada Gay – trouxeram para ruas e avenidas da capital paulista, em questão de três dias, uma disputa ferrenha de manifestantes contra e a favor de uniões homoafetivas.
Essa disputa envolve desde números de participantes dos eventos, mensagens e declarações. De um lado, evangélicos anunciando a movimentação de 5 milhões de fiéis no feriado de Corpus Christi, na quinta-feira, 23, e de outro organizadores falando na participação de 4 milhões de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transsexuais e transgêneros na Avenida Paulista, no domingo, 26.
Evangélicos conduziram a 19ª. Marcha para Jesus sob o lema “A marcha da fé”. A Parada Gay pedia “Amai-vos uns aos outros: basta de homofobia”. As duas manifestações focaram recortes religiosos. Na Marcha, políticos evangélicos e pregadores atacaram o Supremo Tribunal Federal (STF) que aprovou, há um mês, a legalização da união estável entre pessoas do mesmo sexo, motivo de regozijo nas manifestações do domingo.
"O STF rasgou a Constituição que, no artigo 226, parágrafo 3º, diz claramente que união estável é entre um homem do gênero masculino e uma mulher do gênero feminino”, contestou o pastor Silas Malafaia, das Assembléias de Deus.
Malafaia também criticou a proposta do Projeto de Lei 122, de 2006, que torna crime qualquer manifestação homofóbica, inclusive pregações em cultos. “Eles querem aprovar uma lei para dizer que a Bíblia é um livro homofóbico e botar uma mordaça em nossa boca. Se aprovarem o PL 122 no mesmo dia, na mesma hora, tudo quanto é pastor vai pregar contra a prática homossexual. Quero ver onde vai ter cadeia para botar tanto pastor", desafiou.
O senador da República Marcelo Crivela, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, criticou o STF por tomar decisões que dizem respeito ao Poder Legislativo. "O Congresso tem que se levantar contra o ativismo político do STF. Só o Congresso pode detê-los", afirmou.
Quem ficou constrangido foi o apóstolo Estevam Hernandes, líder da Igreja Renascer e organizador da Marcha. Ele procurou destacar o caráter estritamente religioso do evento dos evangélicos e disse que as manifestações de Malafia e Crivela são opiniões pessoais.
Na Parada Gay, animada por 16 trios elétricos, cartazes com imagens 12 de santos seminus anunciavam mensagens como “Nem santo te protege” e “Use camisinha”. A reação veio da Igreja Católica.
O cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer, disse que essas demonstrações foram ofensivas aos santos e feriu os sentimentos religiosos do povo. “A associação das imagens de santos para essas manifestações da Parada Gay, a meu ver, foi infeliz e desrespeitosa. É uma forma debochada de usar imagens de santos, que para nós merecem todo respeito”, afirmou.
Antes do evento do domingo, dom Odilo publicara artigo sob o título “Homem e mulher os criou”, no qual assinalou que a Igreja Católica via com preocupação “a crescente ambigüidade quanto à identidade sexual, que vai tomando conta da cultura”.
A competição entre evangélicos e LGTBs não ficou restrita aos números de seus eventos e manifestações pró e contra novas concepções de família e uniões entre pessoas do mesmo sexo. Tanto na Parada Gay como na Marcha para Jesus foram coletadas assinaturas para abaixo-assinados tendo o mesmo foco, mas contrários no seu conteúdo, que serão levados a Brasília.
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